De olhos fechados

Caminhar sem pensar é, em algumas situações, muito mais confortável do que parar e fazer uma avaliação séria. Especialmente quando se trata de nós próprios. E mais ainda se essas situações se prendem com questões que nos são, de algum modo, desagradáveis (quer fisicamente, quer aquelas em que a nossa consciência nos acusa). Neses casos, e já que a tendência natural do ser humano é fugir da dor (e não aproximar-se do prazer, ao contrário do que muitos pensam), o mais frequente é continuarmos a caminhar, fazendo um esforço por afastar os momentos de lucidez que, volta não volta, teimam em dizer "olá".

Posto isto, deixo à vossa consideração o seguinte. Quer pensemos, quer não, se estamos a caminhar, vamos inevitavelmente acabar por chegar ao destino. Sendo assim, parece-me que é melhor parar e pensar um bocadinho se o destino que queremos é mesmo aquele para onde caminhamos. Ou se o que buscamos está realmente no final da caminhada.

E talvez seja sábio também considerar que o destino (a caminhada) nos reserva sempre surpresas, e dependendo do nosso envolvimento na situação, o resultado pode ser desastroso.

Talvez haja outra forma de fugir da dor. Ou talvez aprender a lidar com ela passe por a encararmos de frente. Seja como for, tenhamos sempre presente na mente e no coração que sofrimentos iguais aos nossos se estão a cumprir noutras pessoas aqui mesmo ao nosso lado (IPe 5:6-10). O sentimento de que estamos sozinhos pode ser uma prisão horrível, ainda por cima baseada numa mentira, e que não nos deixa ver a verdade. A solução? "resisti-lhe, firmes na fé".

Tu podes, tu consegues! Mas mesmo se caíres, eu vou estar aqui p'ra te abraçar e pensar as tuas feridas.